Fantasia histórica descoloniza o Brasil Império com protagonismo negro e misticismo afro-brasileiro

Fantasia histórica descoloniza o Brasil Império com protagonismo negro e misticismo afro-brasileiro
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Em “Fios de Ferro e Sal”, Wilson Júnior entrelaça memória ancestral, aventuras marítimas e crítica ao colonialismo em uma narrativa fantástica e potente

Com uma proposta ousada de resgate histórico e desconstrução de narrativas eurocentradas, o historiador, professor e escritor Wilson Júnior lança Fios de Ferro e Sal: Trama Ancestral, uma fantasia ambientada no Brasil Império que coloca a experiência negra no centro da história. Publicada pela Cortez Editora, a obra mistura elementos místicos com eventos históricos, criando uma trama que propõe reflexões profundas sobre identidade, resistência e ancestralidade.

A jornada de Fios de Ferro e Sal se afasta das versões romantizadas do período colonial e apresenta um universo onde os protagonistas são homens negros que desafiam as estruturas opressoras da época. Kayin, um ferreiro guiado pelos ensinamentos de Ogum, e Ekundayo, um griô com dons curativos atribuídos a Iemanjá, embarcam em uma travessia marítima permeada por perigos, tanto humanos quanto sobrenaturais.

Criaturas místicas e cicatrizes históricas

A narrativa é povoada por entidades fantásticas como Mooby-oh, uma tartaruga colossal; Tia Nanci, uma entidade aranha cheia de armadilhas; e o temido Afogado, criatura envolta em mistério. Essas presenças místicas simbolizam os traumas do passado e os medos mais profundos dos personagens — e dos leitores.

Wilson Júnior utiliza a fantasia como ferramenta para iluminar as sombras do Brasil colonial, refletindo sobre os horrores da escravidão e o apagamento cultural vivido pelos povos negros e nativos. O autor conduz a trama com sensibilidade histórica e domínio narrativo, criando cenas impactantes como a do reconhecimento de um navio negreiro abandonado, onde o protagonista sente os ecos do sofrimento ancestral.

A trajetória do autor e o poder da representatividade

A trajetória do autor e o poder da representatividade
Wilson Júnior é escritor, editor, professor e historiador

Natural do Ceará, Wilson Júnior é uma voz ativa na cena literária periférica e independente. Fundador do Coletivo Escambau, que deu origem a revistas como Escambanáutica, Feira da Pupa e Noturna, também criou o canal Escambau no YouTube, onde falou de literatura, cinema e cultura pop entre 2017 e 2022. Além disso, é o idealizador da FLICE – Feira da Literatura Independente do Ceará, realizada pela primeira vez em 2023.

Pós-graduado em Escrita Literária, Wilson tem se dedicado à formação de novos escritores, tendo organizado coletâneas com textos de seus alunos, como Contos da Cuca (2019), Raízes (2021) e Tecer Mundo (2022). Em 2022, publicou seu livro de estreia, 999, e agora retorna com Trama Ancestral, lançado oficialmente na 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em 2024.

Com Fios de Ferro e Sal, o autor reafirma sua missão de valorizar as religiões de matriz africana, resgatar a memória histórica e propor narrativas que descolonizem o imaginário brasileiro. A fantasia aqui não é escapismo, mas uma ferramenta de enfrentamento e reconstrução. Assim como os seres místicos escondidos no fundo do mar, há dores e memórias profundas que precisam emergir — e serem narradas.

Ficha técnica

Fantasia histórica descoloniza o Brasil Império com protagonismo negro e misticismo afro-brasileiro
Imagem: Divulgação / Cortez Editora

Título: Fios de Ferro e Sal: Trama Ancestral
Autor: Wilson Júnior
Editora: Cortez Editora
ISBN: 9786555555547
Páginas: 256
Preço: R$ 74,00
Onde comprar: Site da Cortez Editora

Instagram: @wilsonjr.999
YouTube: Canal Escambau

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