Evento reuniu 400 estandes, 3 mil influenciadores e trouxe Kojima e estrelas de Final Fantasy ao Brasil; organização e ausências seguem como pontos críticos

A Brasil Game Show encerrou sua 17ª edição neste domingo com um saldo misto: se por um lado a feira consolidou-se como o uma grande evento gamer e trouxe nomes lendários da indústria, por outro esbarrou em problemas crônicos de organização e na ausência de gigantes como Xbox e PlayStation, que deixaram um vazio sentido pelos visitantes.
Realizada pela primeira vez no Distrito Anhembi, a BGS 2025 ocupou 400 mil metros quadrados — quatro vezes mais espaço que a edição de 2024 no Expo Center Norte. O evento reuniu 400 estandes, 3 mil influenciadores e arrecadou alimentos para ações solidárias, somando mais de 580 toneladas de doações ao longo de sua história desde 2009.
Nintendo rouba a cena com Switch 2
A Nintendo foi o grande destaque da feira, especialmente em meio às ausências de outras marcas. A gigante japonesa montou um estande que oferecia mais de 120 estações de jogo e apresentou pela primeira vez no Brasil o Nintendo Switch 2, console lançado mundialmente em junho. Os visitantes puderam experimentar tanto títulos exclusivos da Nintendo, como Mario Kart World e Donkey Kong Bananza, quanto versões adaptadas de grandes games multiplataforma, como Cyberpunk 2077: Ultimate Edition e Street Fighter 6.
A marca também apresentou a campanha “Herança de Família”, com vídeo produzido em São Paulo e focado no público brasileiro, além de distribuir brindes exclusivos e promover encontros com personagens como Mario, Luigi e Donkey Kong.
Hideo Kojima: o ícone que virou caos

A participação de Hideo Kojima, criador de Metal Gear Solid e Death Stranding, dominou a programação do fim de semana — e trouxe complicações. O desenvolvedor japonês comandou painéis lotados no sábado e domingo, revelando detalhes de Death Stranding 2: On the Beach, que se passa na Austrália, e anunciando uma adaptação cinematográfica da franquia e o jogo de terror Ode. Apesar da recepção calorosa do público, a logística dos eventos gerou problemas.
Fora do evento, Kojima circulou por São Paulo e documentou a experiência nas redes sociais: visitou o Beco do Batman, experimentou caipirinha e churrasco, e cruzou com um brasileiro parecido fisicamente com ele. Na BGS, além de atuar como jurado do concurso de cosplay, respondeu à empolgação do público sugerindo que a Kojima Productions poderia considerar o Brasil em projetos futuros — comentário que gerou reação entusiasmada da plateia.
Contudo, a organização do Meet & Greet foi desastrosa. Fãs relataram desinformação sobre horários e regras, com o aplicativo oficial da BGS não atualizando corretamente e funcionários sem respostas claras. Muitos compraram ingressos acreditando ter acesso garantido ao desenvolvedor, mas saíram frustrados.
HoYoverse e Genshin Impact

A HoYoverse instalou na BGS 2025 o estande “Feira Fantástica de Teyvat”, dedicado a Genshin Impact. O espaço foi ambientado na atualização Versão Luna I, que introduz a região de Nod-Krai, e ofereceu atividades interativas baseadas no jogo.
O estande incluiu minigames como a “Prova dos Dados Elementais” e desafios de combate com Ferrins, além de estações para testar o novo modo de combate da atualização. Uma área fotográfica incentivou publicações nas redes sociais com as hashtags #ItStartsInNodKrai e #NodKraiMetro.
Quem participou das atividades recebeu kits de adesivos da Paimon, cartas holográficas da colaboração Genshin Impact × BGS2025, pôsteres, cartões postais e códigos para 100 Primogems. Os itens foram distribuídos por ordem de chegada enquanto duraram os estoques.
A loja do estande comercializou produtos oficiais, incluindo itens inéditos no Brasil e máquinas de gashapon. Compras acima de R$ 100 davam direito a uma carta holográfica, e todas vinham em sacola personalizada. Criadores de conteúdo e cosplayers circularam pelo lugar realizando transmissões ao vivo. A empresa foi além do Anhembi e transformou a Estação Sé do Metrô em uma experiência imersiva com decoração temática e QR Codes para missões digitais.
Grandes marcas apostam em experiências imersivas
A Samsung também realizou uma grande ativação no evento, montando um espaço de 1.000 metros quadrados com o conceito “Samsung é Game”. O estande permitiu que visitantes testassem diversos produtos da marca, incluindo notebooks, smartphones, TVs Neo QLED e OLED, tablets e monitores Odyssey. Entre as atrações, a Samsung promoveu partidas de Free Fire com a equipe LOUD e ofereceu descontos de até 60% em produtos.
A Sega participou da feira pela terceira vez consecutiva e montou um estande dedicado a Sonic Racing: CrossWorlds. O estande contou com oito estações para o jogo e três focadas no crossover com Minecraft. Entre as atrações, uma réplica do troféu de Ayrton Senna conquistado em 1993.
Confira fotos do nosso enviado especial, WarMeteor:



Lendas da Square Enix emocionam fãs de Final Fantasy
A BGS 2025 foi generosa com os admiradores de Final Fantasy. Naoki Hamaguchi, diretor de Final Fantasy VII Rebirth, participou de painéis e meet & greets, compartilhando histórias sobre o desenvolvimento do RPG e interagindo de forma próxima com os fãs brasileiros.
Yoko Shimomura, compositora das trilhas sonoras de Kingdom Hearts, Street Fighter II e Final Fantasy XV, recebeu o Lifetime Achievement Award, a principal premiação da feira. A conquista marcou o reconhecimento de décadas de trabalho em trilhas sonoras que definiram gerações de jogos.
Path of Exile 2 conquista o título de melhor estande
Se houvesse um prêmio de melhor estande da BGS 2025, ele seria entregue à Grinding Gear Games. A área dedicada a Path of Exile 2 impressionou pela estrutura caprichada, com numerosas estações de jogo,ambientação imersiva que transportava os visitantes ao universo sombrio do RPG e brindes de qualidade (camisetas, pôsteres e pins). Apesar da fila longa, a experiência fluía bem e valia cada minuto de espera.
BGS Conference anuncia parcerias e lançamentos
A BGS Conference, apresentada por Ana Xisdê e Marco Ribeiro, concentrou os principais anúncios corporativos da feira. Entre as novidades, a Haymax anunciou parceria com a Warner Bros. para produzir a linha de cadeiras gamer Trainer X3 baseada em personagens licenciados. A Level Infinite promoveu o Boss Rush Challenge de Path of Exile 2, enquanto a TCL divulgou sua linha de TVs e monitores QD Mini LED e formalizou acordo global com Call of Duty 2025.
A Arcor apresentou um mapa temático em Fortnite desenvolvido por estúdio brasileiro, e a Hypecon lançou uma operadora de telefonia voltada ao público gamer, que oferece recompensas vinculadas a jogos e aplicativo com funcionalidades específicas para esse nicho.
Indies brasileiros brilham, mas seguem invisibilizados
A área indie da BGS 2025 trouxe ótimos projetos nacionais, mas manteve o problema crônico de falta de destaque. Jogos como AILA, um título de terror com gráficos ultrarrealistas desenvolvidos na Unreal Engine pelo estúdio Pulsatrix, chamaram atenção dos visitantes que conseguiram encontrar o espaço.
Outros destaques incluíram Incidente em Varginha Remastered, que trouxe de volta um clássico brasileiro dos anos 90 com visual atualizado; Eden’s Frontier, RPG retrô em sua primeira demo jogável; e Tupi: The Legend of Arariboia, que mostrou a força da cultura brasileira nos games com visual arrojado e gameplay por turnos.
Apesar da qualidade dos projetos e do entusiasmo dos desenvolvedores em conversar com o público, os estandes independentes ficaram escondidos atrás de tapumes, com estruturas pequenas e pouco personalizadas, contrastando com as ativações faraônicas das grandes marcas.
Ausências pesam na experiência geral
Pela segunda edição consecutiva, Xbox e PlayStation decepcionaram os fãs com suas ausências. A PlayStation teve presença tímida, focada apenas em Ghost of Yotei, enquanto a Xbox simplesmente não compareceu. Outras marcas tradicionais como Pichau e Red Dragon também ficaram de fora, criando uma lacuna sentida nos corredores do evento.
A ausência de estandes oficiais dessas plataformas limitou o acesso a prévias de jogos exclusivos e às ativações de grande escala que historicamente atraem o maior volume de público e geram as filas mais longas do evento.
Problemas operacionais frustram visitantes
Além dos problemas no Meet & Greet de Kojima, a feira registrou falhas operacionais em diferentes frentes. No sábado, o estacionamento oficial foi fechado sem comunicação prévia, obrigando visitantes a buscar alternativas na região com tarifas mais altas.
No domingo, parte dos expositores iniciou a desmontagem de estandes antes do horário oficial de encerramento, prejudicando quem chegou no período da tarde. A conexão de internet no ambiente apresentou quedas intermitentes, e a sinalização interna foi considerada insuficiente por visitantes.
O estande da revista da Globo gerou reclamações nas redes sociais. Segundo relatos de visitantes, promotores ofereceram assinaturas anuais de aproximadamente R$ 800 sem esclarecer adequadamente os termos do contrato.
Novo endereço divide opiniões
A transferência para o Distrito Anhembi ofereceu infraestrutura superior em aspectos como capacidade de estacionamento e acessos ao local. Apesar da área quatro vezes maior que o Expo Center Norte, visitantes apontaram diferenças na percepção espacial do evento. A configuração dos estandes, combinada com características de iluminação e acústica, resultou em uma atmosfera que parte do público considerou menos impactante que nas edições anteriores.
Balanço final: potencial desperdiçado
A BGS 2025 consolidou números expressivos, mas deixou a sensação de oportunidade desperdiçada. Com 400 mil metros quadrados à disposição, a feira poderia ter dado mais visibilidade aos desenvolvedores independentes, essenciais para a inovação do setor, e resolvido problemas básicos de organização que se repetem ano após ano.
As presenças de Kojima, Shimomura e Hamaguchi foram memoráveis, e a Nintendo mostrou que apostar no mercado brasileiro vale a pena. Mas as ausências de peso, as filas quilométricas mal gerenciadas e a sensação de que marcas e influenciadores ganharam mais destaque que os próprios jogos deixaram um gosto amargo. Para 2026, o desafio está posto: a BGS precisa equilibrar o espetáculo com a essência — os games e quem os cria.